Você é um líder flagelado?

A situação mais surreal para um líder é liderar ninguém. [...]

A situação mais surreal para um líder é liderar ninguém.

Algo estranho, uma vez que a liderança pressupõe liderados. Daí o surrealismo de uma liderança sem liderados, atormentada, isolada. O líder de ninguém é o retrato caricato daquelas lideranças obtusas, desconectadas, autocentradas, esquizofrênicas.

O papel de liderança é discutido desde sempre, desde os manuais acadêmicos até os manuscritos filosóficos milenares, incluindo também os sempre disponíveis guias rápidos sobre tudo. Particularmente, tenho me dedicado ao fenômeno durante toda minha vida profissional nestas últimas duas décadas. E alguns traços de liderança parecem ser universais, independentemente de preferências idiossincráticas ou suscetibilidades culturais.

Vejamos cincos traços dentre os mais admirados:

1. Integridade – firmeza de caráter em torno de valores universalmente aceitos, vivenciando este senso de direcionamento em toda tomada de decisão e em todas as relações.

2. Influência – capacidade de articulação de personagens relevantes em prol de uma agenda, equilibrando perdas e ganhos, mediando conflitos, favorecendo convergência de interesses.

3. Alteridade – colocar-se no lugar do outro em situações adversas, sempre com olhar acolhedor em prol do conforto do outro, mesmo na tomada de decisões difíceis.

4. Efetividade – realização dos acordos com eficiência e eficácia, equilibrando interesses e gerando valor multi-stakeholder, conciliando agendas de curto e longo prazos.

5. Humildade – reconhecimento das próprias limitações com constante expansão de consciência e com contínua diligência em minimizar posturas egóicas.

A liderança flagelada não cumpre estes nobres requisitos. E por isso lidera ninguém.

O sinal claro e transparente para a liderança flagelada ocorre mais em situações de estresse. Uma vez que contextos favoráveis acabam camuflando lideranças fracas apenas pela inércia do movimento positivo, onde todos ganham sem saber bem como, e assim, confortáveis e saciados, esquivam-se de conversas mais cruciais, minimizam reflexões mais essenciais.

Mas as crises são ótimas detetives de lideranças flageladas.

No olho do furacão, onde todos perdem suas referências de chão e suas perspectivas de horizontes, onde a complexidade e a ambiguidade promovem a vitimização e a paralisia, as lideranças são colocadas em xeque o tempo todo. E apenas as mais capazes sobrevivem.

O líder flagelado aponta uma direção que ninguém segue, apresenta narrativas que ninguém acredita, convoca para missões que não comovem, desperta a indiferença irrestrita. O líder flagelado isola-se pelo afastamento que se alimenta de um misto de estranhamento da mente e estrangulamento da vontade. O flagelo da liderança é muito triste para todos.

O flagelo da liderança pode resultar também no próprio flagelo institucional. Afinal, as instituições são forjadas por suas lideranças dominantes. Diante da inaptidão destas, sucumbem as próprias instituições.

Em tempos de pandemia, o flagelo das lideranças é evidente. Algumas despertam o asco, outras o despeito, outras o escárnio e outras, ainda, o desespero.

Não há grupos sociais vitoriosos sem lideranças extraordinárias. Os modelos anárquicos são ótimos para artigos em revistas especializadas e histórias em quadrinhos. Na vida prática de um grupo social, lideranças são pivotais para o sucesso ou para o fracasso.

Portanto, o flagelo das lideranças em plano nacional, é também o próprio flagelo nacional.

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Daniel Augusto Motta, PhD, MSc

Fundador e CEO BMI Blue Management Institute

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