A autoridade – segundo o grande sociólogo Max Weber – pode ter natureza tradicional-sagrada (como ocorre nas instituições religiosas, monarquias e até mesmo em grupos familiares), racional-legal (como é comum nas empresas e governos) e carismática (notadamente em partidos políticos, mas também em empresas). Muitos psicólogos têm abordado a força desse carisma em seus arquétipos de liderança e influência, em um debate interminável sobre se tratar de um traço nato ou adquirido por pessoas.
No contexto empresarial voltado para o desenvolvimento da cultura, o papel das lideranças é crítico, e certamente ultrapassa as possibilidades do carisma. É claro que lideranças carismáticas têm notória capacidade de mobilização de grupos. Mesmo assim, abordarei o exercício da liderança sob a ótica racional-legal, sem desconsiderar naturalmente todo seu impacto no conjunto semiótico que expressa valores, crenças, normas e pressupostos básicos de um grupo social.
Na etapa de formação da cultura, após as lideranças iniciais compartilharem seus próprios repertórios sociais, após o grupo internalizar e experimentar tal repertório na prática, após líderes e liderados acertarem e falharem na aplicação desses princípios, finalmente o grupo legitima um certo conjunto refinado de valores, crenças e pensamentos como suas próprias referências sociais.
Como a cultura se forma como um processo político-simbólico em uma dinâmica interativa permanente de contestação, transformação e dominação, caso as lideranças consigam preservar seu poder, continuarão a influenciar a cultura.
Ao longo do processo de desenvolvimento cultural, as lideranças assumem papel fundamental no uso de mecanismos primários e secundários que podem assegurar consistência dessa evolução.
Líderes, conscientes ou não, utilizam poderosos mecanismos de fixação da cultura:
. Foco de atenção, mensuração e controle por parte das lideranças
. Modo de reagir das lideranças diante de crises e eventos críticos
. Comportamento natural dos líderes em diferentes interações com equipes
. Critérios adotados na definição de reconhecimentos e status social
. Critérios adotados na seleção, promoção, demissão e aposentadoria
Além disso, líderes utilizam também mecanismos secundários de articulação e reforço:
. Design organizacional
. Políticas e procedimentos internos
. Ambiente físico
. Conjunto de lendas e mitos
. Artefatos simbólicos
. Códigos formais de conduta empresarial
. Manifestos institucionais.
Assim, as lideranças modelam a cultura de um grupo social.
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Daniel Augusto Motta, PhD, MSc
Fundador e CEO BMI Blue Management Institute