Humanos São Animais Políticos

Cultura organizacional é um processo político-semiótico que endereça: [...]

Cultura organizacional é um processo político-semiótico que endereça:

·     Mapa mental coletivo que estabelece as lentes pelas quais são percebidas, analisadas e incorporadas variáveis do ambiente interno e externo, orientando atitudes individuais e comportamentos grupais, modelando o jeito de ser da empresa e influenciando suas escolhas estratégicas e operacionais.

·     Modo grupal de operar e interagir para realização de um propósito definido no tempo e espaço reconhecido pelos indivíduos, definido conjunto de normas e valores – não necessariamente explícitos – para resolução de conflitos, solução de problemas, processo decisório, reconhecimento, penalidades e execução.

·     Natureza do vínculo que os indivíduos estabelecem entre si e com o contexto empresarial em que estão inseridos, combinando aspectos afetivos e racionais.

Culturas organizacionais são, portanto, constructos sociais realizados por grupos orquestrados por lideranças capazes de articularem interesses comuns, criarem significados e implementarem obrigações mútuas entre todos os membros, em um processo interativo permanente de contestação, transformação e dominação.

Ao longo do tempo, líderes e liderados modelam linguagens, tradições, normas, valores, significados, símbolos, rituais, mitos, processos, mecanismos de controle e sistemas de reconhecimento. Líderes fazem tudo isso por meio de uma narrativa que se apresente como natural, neutra, crível, justa e legítima para serem capazes de organizar os processos sociais e psicológicos nesse agrupamento humano.

Forma-se, então, a expressão distintiva de uma empresa em relação a todas as demais. Toda cultura organizacional é inexoravelmente a expressão original de sua trajetória, em contínua dinâmica definida pelas interações sociais internas e externas.

A cultura organizacional estabelece-se em três camadas que combinam elementos concretos e visíveis, simbólicos e subjetivos e, até mesmo, conscientes e inconscientes.

·     Nível 1: Artefatos observáveis – É o nível mais fácil de observar em uma empresa. Tudo aquilo que se enxerga, ouve e sente nas interações com membros dessa empresa representa essa camada mais superficial formada pelas estruturas organizacionais visíveis e comportamentos observáveis. A decoração, o clima, o modo como as pessoas se comportam umas com as outras, a linguagem, os símbolos, os rituais.

·     Nível 2: Normas e valores compartilhados – É a camada intermediária que orienta as interações sociais de uma forma específica, e distingue os membros dessa cultura de outras empresas, assegurando-lhes uma identidade distintiva. Os valores compartilhados estão relacionados a desejos e aspirações, metas e modelos mentais, e orientam os conceitos “bom” e “mal”. As normas orientam o conceito “certo” e “errado”, e podem ser até desenvolvidas de modo formal, refletidas em políticas, procedimentos ou manuais, ou de modo informal, regulando a ordem social de modo semiótico.

·     Nível 3 - Certezas e pressupostos fundamentais – Esse nível é formado por um conjunto de percepções coletivas que definem a real essência da organização. Essa camada é formada por valores essenciais, crenças e pensamentos que resultam de um processo de aprendizado coletivo, construído ao longo da vida grupal. Tais certezas básicas resultam do sucesso coletivo histórico, à medida que o grupo aprende o que funciona melhor nos seus processos e ambientes cristalizando, assim, um modo específico de atuar e interagir. Entretanto, essas mesmas certezas, com o tempo, tornam-se automáticas e inconscientes, forjando regras tácitas ou modelos mentais, que guiam o modo de fazer, pensar e sentir, mesmo diante de um contexto volátil.

Tais padrões culturais religiosos, filosóficos, científicos, artísticos, diante da extrema plasticidade do comportamento humano, se transformam em programas capazes de organizar os processos sociais e psicológicos em um grupo humano. É através desses fortes pilares ideológicos e referências sociais que um homem transforma a si mesmo, para o bem ou para o mal, em um animal político.

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Daniel Augusto Motta, PhD, MSc

Fundador e CEO BMI Blue Management Institute

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