A Lógica dos Mitos

A falta de referências objetivas para questões subjetivas e angústias inconscientes favorece a utilização de mitos [...]

A falta de referências objetivas para questões subjetivas e angústias inconscientes favorece a utilização de mitos para explicar a realidade incognoscível.

Indivíduos, inicialmente, formam hordas sociais, o protoplasma da ordem social, para em seguida agregarem-nas em clãs que, por sua vez, transformam-se em unidades sociais cada vez mais complexas, como reinos, nações e empresas. Na esteira desse processo evolutivo, as religiões, por exemplo, apressam-se em apresentar suas visões dogmáticas e “sagradas” para as questões mais transcendentais de seus fiéis. Além delas, também reinos, nações e empresas desenvolvem narrativas “cosmológicas”.

Assim, a cosmologia de um grupo social é, indubitavelmente, sempre reflexo de sua cultura e do momento histórico em que foi concebida e refinada. Não por outro motivo, segundo diversos estudiosos, o Livro do Gênesis apresenta paralelismos incríveis com o Enuma Elish, mito da criação babilônica, onde dilúvio e torre de Babel já existiam. Aliás, é preciso ressaltar que, para muitos historiadores, o texto judaico foi escrito por volta dos séculos XVIII a.C. e XVII a.C., período no qual Jerusalém e Judá estavam sob o domínio babilônico, sob a égide do rei Nabucodonosor.

Não por outro motivo também, sol e água, essenciais para a agricultura, sempre ocuparam lugar destacado nas mitologias das civilizações antigas há milhares de anos. A partir desse referencial, a Teogonia do poeta Hesíodo apresentou a genealogia dos Deuses, Titãs, Ciclopes e Hecatônquiros a partir dessa lógica para, então, posicionar o comportamento humano como reflexo hereditário desse panteão de divindades.

Também é importante ressaltar que a cosmologia tem, além das explicações sobre a origem do mundo, o papel fundamental na justificativa das estruturas sociais. Assim, na tradição hinduísta, segundo os manuscritos védicos, existem três divindades responsáveis pelos ciclos de criação e destruição do Universo: Brahma cria, Vishnu preserva e Shiva o destrói para que o ciclo recomece.

Por último, o mito torna-se especialmente um instrumento político para coesão social, quando descreve a criação do mundo e dos humanos pelo deus Brahma. Esse gerou dois deuses - Gayatri e Purusha, o homem cósmico de onde foram feitas todas as coisas. Então, enquanto alguns homens nasceram da boca de Purusha e se tornaram sacerdotes, outros nasceram dos seus pés e se tornaram escravos.

Assim, indo além da perspectiva psicológica de Carl Jung para os mitos como sendo a expressão do inconsciente coletivo para os arquétipos da alma, sigo aqui a visão de Mircea Eliade em considerar que não há oposição necessária entre mito e lógica. Pelo contrário, a construção coletiva humana de uma identidade comum passa inequivocadamente pela combinação de elementos racionais e semióticos.

Compreender realmente essa dualidade ainda é tarefa desafiadora a muitos gestores.

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Daniel Augusto Motta, PhD, MSc

Fundador e CEO BMI Blue Management Institute

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