As organizações estão inseridas em contexto amplo e dinâmico, incompreensível em sua totalidade, densidade e amplitude. São, ao mesmo tempo, determinantes autorais e resultantes idiossincráticas das épocas e dos ambientes em que estão inseridas, indelevelmente associadas às questões propostas, aos desafios superados e aos fracassos vivenciados durante sua existência por meio de diferentes grupos sociais.
Particularmente interessantes são as proposições defendidas pelos pensadores norte-americanos Freeman Dyson e Stewart Brand para a análise civilizatória em camadas – algumas rápidas, outras lentas.
Enquanto as partes rápidas aprendem, propõem e absorvem choques externos, as partes lentas memorizam, integram e restringem. Enquanto as partes rápidas recebem toda a atenção do público, são as partes lentas que detêm todo o poder. De um lado do espectro, a moda e o comércio apresentam-se, respectivamente, como partes rápidas. No outro extremo, a natureza e a cultura permanecem, respectivamente,como partes mais lentas. No plano intermediário, as camadas de infraestrutura e governança dividem o plano entre as camadas rápidas e lentas.
O papel da moda –e, também, da própria arte – consiste em ser rápida, envolvente, despreocupada,provavelmente fútil, sempre autocentrada. Jovens tendem a ser obcecados pela moda, enquanto idosos ficam entediados diante dela.
O comércio – e, portanto, as organizações – salvo sustentado por governança e cultura, torna-se crime. Mesmo o intuito do comércio em influenciar as camadas mais estruturantes e lentas parece ser míope demais para tal empreendimento, limitado por sua necessária busca privilegiada pelo retorno de curto prazo.
A infraestrutura,embora essencial à sociedade, não se justifica estritamente por objetivos comerciais por conta dos seus longos prazos para retorno, exigindo intervenção governamental por meio de financiamentos e/ou concessões. Mesmo educação e ciência podem ser consideradas infraestruturas intelectuais, com retornos elevados em prazos longos. A própria governança, ao mesmo tempo que sustenta comércio e infraestrutura, também está sujeita à opinião pública.
A cultura move-se lentamente no ritmo da linguagem, da religião e dos usos e costumes, fruto da ação inconsciente e descoordenada de povos ao longo de gerações. Finalmente, a natureza mantém seu vasto poder, inexorável e implacável, cujas forças apocalípticas seguem à espreita de nossas ações irresponsáveis contra o equilíbrio ecossistêmico. Revoluções profundas e perenes não ocorrem na frugalidade da moda, mas sim na força descomunal da natureza e/ou da cultura.
As organizações,por sua vez, mesmo atuando nas camadas mais superficiais em sua busca pela realização do propósito empresarial, devem sempre observar e antecipar movimentos nas camadas de natureza, cultura e governança.
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Daniel Augusto Motta, PhD, MSc
Fundador e CEO BMI Blue Management Institute