Todas as organizações se consideram únicas. E, de fato, na perspectiva da construção social inerente à sua constituição e ao seu desenvolvimento, são verdadeiramente únicas.
Mas, não por isso, apresentam características realmente exclusivas em comparação a tantas outras organizações em diferentes momentos e lugares. O fenômeno organizacional é, portanto, resultado da tensão entre a dinâmica própria inserida no contexto comum, também sujeito aos ciclos sucessivos vivenciados pela humanidade em sua baixa criatividade em produzir problemas a serem resolvidos.
Estamos vivendo um contexto atual interessante. A virada de um século parece realmente surtir certo impacto na psiquê humana - enquanto alguns vislumbram uma época virtuosa jamais imaginada, outros já aguardam resignados pelo clímax apocalíptico. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, a humanidade caminha como sempre caminhou, provavelmente a passos um pouco mais acelerados, mas ainda assim menos dramáticos do que a ansiedade digital exacerbada a todos os cantos parece nos fazer acreditar.
Enquanto indivíduos e sociedades experimentam vorazmente a miríade de tecnologias e novidades promovidas em escala global e fragmentada, enquanto governos paquidérmicos ainda insistem em permanecerem alienados, as empresas estão se movimentando, algumas pelo propósito inspirador da revolução digital, outras pelo pragmatismo da busca pela sobrevivência na nova arena competitiva.
Cinco paradoxos dominam crescentemente a agenda executiva:
• Horizonte
• Agenda
• Transparência
• Trabalho
• Inovação
O paradoxo Horizonte aborda a tensão histórica entre curto e longo prazo. Mas agora é mais aguda. A pressão por resultados mensais e trimestrais nas empresas de capital aberto, motivada pelos gestores de fundos de investimento, está cada vez mais intensa. Ao mesmo tempo, o aumento da consciência social e do escrutínio público desafia as empresas a cada vez mais assumirem compromissos de longo prazo com a sociedade e o meio-ambiente.
O paradoxo Agenda refere-se aos ciclos executivos curtos versus o processo decisório de longo prazo. A permanência de altos executivos na mesma posição é cada vez mais curta, não obstante a necessidade de tomada de decisões de longo prazo nas empresas. Conflitos de interesse surgem inexoravelmente à medida que não necessariamente exista alinhamento entre esses incentivos individuais e objetivos coletivos.
O paradoxo Transparência contrapõe a democracia do acesso aos dados em larga escala versus a perda do poder baseado no domínio dessas informações. A celebração de enormes "jazidas de dados" encontradas, organizadas e processadas convive com a perda expressiva de influência e direcionamento pelo acesso mais universal a esses mesmos dados. A padronização dos dados certamente questiona o valor agregado de diversas funções.
O paradoxo Trabalho reconhece a jornada individual por meio da experiência, expressão e conexão inerentes ao atual contexto da ética do prazer, onde a busca pela satisfação pessoal sobrepuja a própria disposição pela obediência outrora existente na ética do dever. O trabalho - antes visto como castigo a ser considerado como ponte para realização de sonhos e cumprimento de obrigações com terceiros - agora é visto como linha contínua da vida. Os desenhos organizacionais e as lideranças executivas estão em xeque.
O paradoxo Inovação refere-se aos embates entre Compliance e Experimentação. O mundo corporativo está se tornando cada vez mais regulado e controlado, cabendo ao compliance interno a responsabilidade pela vivência dos códigos de conduta e pela observância dos controles de riscos integrados. Mas os ciclos rápidos do negócio impõem uma dinâmica fluida de experimentações - muitas vezes, em ecossistemas povoados por startups e parceiros - que coloca a organização justamente na área cinzenta tão indesejada por compliance.
Eis os cinco paradoxos do mundo contemporâneo das lideranças executivas nas organizações. Não há atalho para solucionar esses dilemas corporativos. Apenas forte direcionamento estratégico, coesão grupal, cultura organizacional saudável e sistemas funcionais podem ajudar tais líderes a tomarem decisões nesse contexto instável.
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Daniel Augusto Motta, PhD, MSc
Fundador e CEO BMI Blue Management Institute